'Surge agora um partido de correntes? A defesa falaciosa do partido monolítico' (Felix Bouard)
Entender que o partido comunista não pode ocultar a disputa interna e sim dar forças para que mesmo as camadas precarizadas possam disputar em pé de igualdade, usando da verdade e do convencimento enquanto definidora do que iremos tocar enquanto partido.
Por Felix Bouard para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Percebo agora uma mudança nas acusações dirigidas à RR pelo velho PCB. Busco neste texto apontar como a dicotomia entre partido de correntes e do tipo monolítico serve apenas para distrair a base acerca do debate político que envolve a crise.
Para contextualizar, escrevo esse texto após a publicação da nota da UJC Joinville, destaco aqui um de seus trechos: "o PCB-RR propõe um partido baseado na polêmica aberta e em correntes de opinião". Destaco aqui que isso ao meu ver pode se tornar uma retórica a ser compartilhada por aqueles que ficam no velho PCB, portanto desde já busco desmentir tal retórica.
Comecemos camaradas, tal proposição ignora o essencial da crise: existe dentro do velho PCB uma estrutura que privilegia e leva a posições de dirigência militantes que por estarem inserides no meio acadêmico não necessitam de uma política estrutural de formação de quadros, levando para dentro do partido os desvios pequeno-burgueses existentes no meio academicista.
O partido de tipo monolítico, aquele disseminado pela União Soviética para o resto do mundo, não busca combater a infiltração em suas fileiras por parte da pequena burguesia. Não é recente a instauração de burocratas em órgãos de dirigência de um partido comunista. Sua estrutura desde sempre favoreceu isso, cumprindo um papel histórico deixado para a união Soviética de tocar tarefas burguesas, gerindo um capitalismo de estado enquanto uma resposta a esquerda não era possível. Portanto, quando reproduzimos sua forma, ignoramos o contexto histórico em que foi criada, servindo ao revisionismo.
No entanto, quando se percebe a incapacidade dessa forma-partido de tocar uma revolução em terras brasileiras, nos deparamos com um novo problema. Qual seria portanto a forma a se aderir? E novamente a falta da contextualização histórica leva militantes em ambos os lados da disputa a colocar as formas- partido enquanto algo abstrato derivado do éter. Chegando a considerar um partido de correntes enquanto uma possibilidade plausível.
Ora camaradas, não podemos nos deixar levar por essa falsa dicotomia. Enquanto o partido monolítico oculta a inserção de pequenos-burgueses em tarefas de direção. O partido de correntes faz isso abertamente! Coloca como necessário para a esquerda que exista a convivência entre ideias proletárias e pequeno-burguesas, que elas se organizem em correntes que estão subordinadas a um mesmo grupo e linhas gerais. E por mais que a UJC Joinville busque dizer que tal estrutura é para onde caminhamos enquanto PCB-RR, o fazem sem desenvolver tal argumento, como se fosse uma presunção lógica que o único partido que comporta a disputa interna é o de correntes! E para além disso, pauta somente a forma partidária e ignora que tal forma é construída de maneira consciente se orientando por uma posição política.
E com isso precisamos pontuar qual a posição dos defensores do tipo monolítico e o de correntes - até porque ambos igualmente abrem espaço para a pequeno-burguesia tomar as rédeas do partido, mas uma faz isso de maneira oculta enquanto a outra abertamente, mas o objetivo político não se altera! Ambos caminham para um giro à direita!
Com isso, apesar de nos acusarem de ocultar o caráter político da crise, os revisionistas têm feito e fazem isso até mesmo na última publicação da UJC Joinville.
Tais revisionistas ocultam com legalismo e burocratismo o que é o partido comunista e o que define sua forma, sendo ela derivada de sua estratégia e não o contrário. Colocam como rocha pétrea de sua argumentação o estatuto, o nascimento formal de um partido comunista de 100 anos. Esquecendo que a crise que se apresenta agora surge porque o estatuto serviu para mascarar debates e fortalecer o revisionismo em nossa organização. E então, apesar de se consolidar enquanto algo diferente, o PCB RR é gestado dentro do partido e não externo a ele, sendo aquelus que o constroem atualmente, aquelus convencides por sua linha e que irão continuar seu trabalho político independente de sua idade enquanto organização. Se quiserem ficar com o nome e sua velhice, que fiquem, os acúmulos, críticas e autocríticas e a prática política são muito mais importantes e isso não pode ser tirado de nós.
Para concluir, é necessário superar a dicotomia que tentam nos forçar goela a baixo. Entender que o partido comunista não pode ocultar a disputa interna e sim dar forças para que mesmo as camadas precarizadas possam disputar em pé de igualdade, usando da verdade e do convencimento enquanto definidora do que iremos tocar enquanto partido. Não se trata de conviver com ideias reformistas pelo bem do debate, e sim de combater de forma aberta tais ideias e expulsá-las de nossa organização, em defesa da hegemonia do proletariado.