'Sobre o debate de forma e conteúdo do presente racha' (Felix Bouard)

Falar que o partido comunista é aquele que mantém as estruturas e é reconhecido pela democracia burguesia desde sua fundação enquanto tal, é abraçar uma perspectiva burguesa do que é a nossa luta

'Sobre o debate de forma e conteúdo do presente racha' (Felix Bouard)
"Camaradas, existe algo de muito grave nesse discurso, uma retórica que busca condenar a forma como a disputa é travada — esquecendo do essencial, a justeza que tal disputa possui e o caráter político da mesma."

Por Felix Bouard para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Nós comunistas, sabemos como correlações de força condicionam o que será aplicado na legislação burguesa. Como então podemos esquecer que essas relações condicionam também nossos estatutos, PDs e expulsões?

É com essa pergunta que inicio uma serie de tribunas por mim escritas e publicadas para o PCB RR — movimento que busca combater o revisionismo e o giro a direita que agora ocorre em nosso partido — agora que após um processo cansativo e renovador de debates nós da UJC Paraná aderimos em maioria esmagadora ao movimento.

Nesse texto buscarei convencer aquelus que por diversos motivos se encontram indecises de que posição tomar na disputa agora aberta que nos atravessa enquanto organização. Tentarei abordar primeiramente os motivos que avalio dessas posições vacilantes existirem, segue:

Defendo que o que mais tem atrapalhado o debate (de forma intencional por muitos daqueles que defendem os revisionistas do comitê central), é o debate esvaziado de forma perpetuado e incentivado por tais militantes.

Algo que em muito me surpreende é a quantidade de militantes que acreditam nesse papo, que busca caracterizar a movimentação como desonesta por descumprir o estatuto, enquanto existem provas claras de que as ferramentas internas não eram suficientes para tal.

Camaradas, existe algo de muito grave nesse discurso, uma retórica que busca condenar a forma como a disputa é travada — esquecendo do essencial, a justeza que tal disputa possui e o caráter político da mesma.

De inicio, comparemos o tratamento das instâncias frente a dois dois lados diferentes da disputa: enquanto se promoveu uma série de expulsões daqueles que sairam em denuncia publica — apos os mecanismos internos estarem exauridos -, nada se fez com Eduardo Serra (e sim não considero algo o péssimo texto escrito por esse que trai nossa política internacionalista por baixo e cima dos panos) e com Eduardo Mazzeo (inclusive com militantes do CC vindo em ativo do complexo do Paraná dizer que o defensor de jack Mazzeo nunca recebeu denúncias sobre sua posição frente ao caso Boaventura Santos). Com isso (e sei que tem mais exemplos) podemos perceber uma coisa, um tanto óbvia para aqueles tao habituados a invocar o método histórico materialista-dialético — não são as regras que definimos em congresso que condicionam as relacoes sociais em nosso partido, e sim o contrario. O que quero dizer com isso? é inútil as acusações de fracionismo e bla bla bla quando sabemos que estas só valem para um dos lados da disputa — rumo ao revisionismo do que é marxismo-leninismo, centralismo-democratico e o que significa um partido comunista na luta de classes.

Comecemos portanto na discussão do fechamento acima — vejo com muita preocupação um erro de análise por parte daqueles que visam defender a unidade do partido ainda que referendando os direitistas do CC. Isso porque tal defesa cai no erro grave de que a nossa luta enquanto comunistas começou com a fundação de uma organização em 1922, com esta então condicionando uma luta combativa e radical contra o capitalismo.

Sei camaradas, que existe um medo gigantesco em aderir a movimentação do PCB-RR devido aos aparelhos (inclusive quais são estes para além do trabalho militante realizado por nós que construímos o partido?) que possuimos e que sabemos ser difícil recuperar com esse processo.

Mas sejamos honestes camaradas! Falar que o partido comunista é aquele que mantém as estruturas e é reconhecido pela democracia burguesa desde sua fundação enquanto tal, é abraçar uma perspectiva burguesa do que é a nossa luta, diferente do que essa classe parasita acredita: não é o nome, os símbolos e instâncias que definem o partido comunista enquanto tal — É A SUA ATUAÇÃO POLÍTICA! (apesar daqueles também terem importância).

Falar que os únicos que podem se dignificar a se colocar enquanto partido comunista são aqueles que se submetem à direção e os métodos direitistas atuais, é revisionismo e deixa de lado as lutas realizadas nacional e internacionalmente quando o PCB enquanto instrumento de luta não se pôs a lutar!

Não é o partido comunista que dá início a luta de classes, temos vários exemplos em nossa história de como não servimos a esse papel! A única utilidade de evocar tais pontos é no sentido de mobilizar a classe trabalhadora e elevar sua consciência rumo à construção da revolução brasileira. Se nos apegamos mais aos símbolos, nome e etc do que a atuação política — e aqui coloco, apoiar um país imperialista em uma guerra não é uma prática comunista! Condicionar uma política de aliança e construção de frentes que facilite o rebaixamento de nossas bandeiras em detrimento da hegemonia do proletariado é o dimitrovismo que tanto atrasou a luta comunista internacionalmente! — o partido se torna apenas um eco daquilo que podia ter sido, e aqui no Brasil estamos cheios de tais exemplos.

Além disso, existem outros dois pontos que se conversam e também auxiliam a realização de um debate superficial sobre o racha — o tarefismo e a falta do convencimento político dentro de nossas fileiras.

Nao me surpreende que tantas pessoas estejam receosas com tudo, já era de tempos que nossos métodos de direção se baseavam no mandonismo — sendo realizado desde o CC até os núcleos de base -, esquecendo que a militância comunista é voluntária, e a única coisa que nos motiva a continuar é o sentido que vemos nela, e qualquer outra coisa com o tempo se esvai e leva consigo o espirito revolucionário.

Tais métodos foram muito percebidos por mim na própria UJC durante a disputa do CONUNE, quando mesmo com vários núcleos criticando as táticas propostas (pois eram aquelas táticas rebaixadas), pouco esforço foi feito no sentido de convencer a militância (e quando digo convencer não é falar “ah mas está nas resoluções, ah mas a CN delimitou como prioritário”, e sim mostrar como tal tarefa faz sentido e possui importância na atuação local do núcleo rumo a revolução).

Por isso para mim é muito interessante ver militante que antes sintetizou o processo de queima de militante, de falta de convencimento, de erro de análise da CR sobre as capacidades do núcleo como uma “greve” realizada pelos militantes — algo que não ocorreu, mas o militante nao sabia por estar distante da atividade do núcleo a tempos -, escrevendo para cá (e acho muito interessante mesmo, porque isso vem acompanhado de uma postura autocrítica da CR e do militante em questão com a disputa que se apresenta agora do CONUPE — Algo que os revisionistas do CC não fizeram).

Tal método serve para explicar como o que ocorreu não foi uma infecção inexplicável no CC por parasitas revisionistas. E sim resultado de uma análise e entendimento da luta comunista falha, resultado da falta de uma política de formação de quadros que leva às posições de dirigência alguns acadêmicos e faz com que na própria RR tenhamos poucos camaradas publicamente direcionando a disputa. Isso porque não precisamos falar abertamente que só aceitamos acadêmicos no CC, que entendemos o PCB por uma lente legalista para que assim ocorra. (é necessário atualizarmos a forma com que se realizam as formações, tanto o sistema nacional quanto aquelas feitas pelos NBs

E com isso aponto como não se trata de um problema de direções, mas também de método. Mesmo que os camaradas que buscam a unidade do partido achem que ao expulsar Mazzeo e outros estaremos resolvendo tal problema, ao manter os mesmos métodos de antes, a mesma atuação política de antes e a mesma <falta> de formação de quadros, os problemas serão os mesmos depois.

Por isso, aqui justifico e referendo a decisão de aderir ao PCB RR, pois é este que se coloca na posição de incentivar o debate interno e a socialização de acúmulos — é este que trata pela ótica revolucionária o que é a luta comunista, e coloca nestes a possibilidade de recuperar a validade de nossa luta e aprofundá-la junto da classe trabalhadora.

Por isso, camaradas que ainda não sabem que caminho seguir. Entendo que é difícil ser surpreendide por uma aparentemente perda de todos os avanços que tivemos quando se está numa lógica incessante e alienada de trabalho militante. Se vocês se esqueceram do porque militam, porque um dia escolheram militar em uma organização comunista, porque um dia <quiseram>, este é o momento de ler, discutir, acolher e ser acolhide. O espírito revolucionário só tem um combustível e ela é a convicção. E por fim, convicção só pode ser recuperada quando se discute o nacional e o Internacional, quando se relaciona os classicos textos de lenin e varies revolucionaries com o seu cotidiano.

Buscarei em meu próximo texto discutir sobre o formato das formações e sua relação com a agitação e propaganda — peço paciencia pois para alem de trabalhar e estudar para o vestibular, também toco a secretaria politica de um núcleo de movimento estudantil — o que muito me exige.

Atenciosamente, camarada gate felix do núcleo Honório Delgado Rubio de Curitiba — PR