'Que complicação, hein?' (Felix Bouard)

Escrevo essa tribuna porque por algum motivo nosso Órgão Central parece não ter aprendido a lidar com a dinâmica da polêmica pública. Com a polêmica dos delegados natos (é tão polêmica assim?), novamente aparecendo de forma alarmista, sem uma resposta devida de nossos dirigentes nacionais.

'Que complicação, hein?' (Felix Bouard)
"Camaradas, sejamos sinceres, mas quem participou de ao menos um congresso sabe que ser delegado nato não garante uma eleição para a etapa nacional. Quem faria uma moção de defesa para ume militante que não participa das atividades do próprio núcleo (quando tem), por vezes é distante dos nucleos que assiste, fica num trabalho que só seus camaradas da instância intermediária conhecem. Tem quase ninguém pra defender, mas pra apontar a ausência, um personalismo, etc, terão vários, que conhecem um outro aspecto de militante em questão."

Por Felix Bouard para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas, escrevo essa tribuna porque por algum motivo nosso Órgão Central parece não ter aprendido a lidar com a dinâmica da polêmica pública. Com a polêmica dos delegados natos (é tão polêmica assim?), novamente aparecendo de forma alarmista, sem uma resposta devida de nossos dirigentes nacionais.

Sobre a polêmica pública, não há como o Órgão Central remar contra a maré!

Camaradas, começando esse texto, falemos sobre a dinâmica da polêmica pública. Temos percebido o quanto essas tribunas abertas tem servido para socializar acúmulos, apontar debilidades em nossa formação teórica e etc. No entanto, parece que não estamos habituades com essa dinâmica, e como defendo que tais debates continuem de forma aberta mesmo após o congresso, vou pontuar aqui algumas coisas que devem mudar.

Camaradas, sei que existem sim regras para o envio das tribunas, sei que existem agora para avançarmos nossas discussões congressuais. No entanto, nossas necessidades materiais evidenciam que algumas regras precisam ser afrouxadas de acordo com elas. A discussão acerca dos delegados natos se faz presente, se coloca uma desconfiança a nosses dirigentes nacionais (e intermediáries no caso de São Paulo), por mais horrível e mal argumentada que seja a tribuna que paute isso, É ÓBVIO que ia dar ruim, ela ia ser publicada de qualquer forma e agora chamando mais atenção e trazendo mais desconfianças. Foi uma decisão editorial ruim, um tiro no próprio pé. Aquele era o momento de um dirigente a favor dos delegados natos se colocar a discutir com a base, e ter que falar isso é bem chato.

Pautamos a polêmica pública reconhecendo sua necessidade para o avanço do movimento comunista no Brasil, agora temos de lidar com suas particularidades, entender que tribuna não se censura ou se posterga a publicar por ter nela falhas, erros, desvios etc. São essas que devem ser publicadas e rebatidas com prioridade.

Pelo amor de deus, delegado nato não é método pra se aplicar um golpe.

Camaradas vou falar bem a real aqui, mas deve estar sendo perceptível para a base que a desconfiança frente as nossas dirigências tem crescido. E para além do camarada Silco que constrói sua tribuna baseando-se em formalismo << Porque regimento rege! >>, vou tratar das condições materiais que se desdobram do uso dos delegados natos.

Sim é um caso omisso, isso é claro. Temos diverses militantes sem uma instância de base, presos em uma tarefa que ninguém vê em suas instâncias intermediárias - estão distantes do cotidiano do seu próprio núcleo - e aparecer somente para a etapa de base é desconsiderar que o processo de eleição leva em consideração também a atuação do militante entre os congressos. Tal trabalho escondido existe, e não pode ser ignorado, e sabemos que mesmo que tal militante traga ótimas propostas, se ninguém acha que ele faz alguma coisa de fato, isso tudo pode ser jogado no lixo. Não vou tratar muito da proposta que vi de tais militantes participarem das eleições nos núcleos que assistem, porque não acho que seja uma proposta com tanta aderência mas principalmente pelo motivo de que isso iria influenciar a atuação do assistente na instância, o tirando do papel de observador “imparcial”.

Delegado nato consegue aplicar um golpe? Camaradas, sejamos sinceres, mas quem participou de ao menos um congresso sabe que ser delegado nato não garante uma eleição para a etapa nacional. Quem faria uma moção de defesa para ume militante que não participa das atividades do próprio núcleo (quando tem), por vezes é distante dos nucleos que assiste, fica num trabalho que só seus camaradas da instância intermediária conhecem. Tem quase ninguém pra defender, mas pra apontar a ausência, um personalismo, etc, terão vários, que conhecem um outro aspecto de militante em questão.

Se existe ou não um esforço para construir militantes faróis de nossa futura organização, creio que isso possa ser debatido com mais qualidade em momentos futuros. Mas não acho que os delegados natos sejam uma ferramenta pra garantir isso, aconselho no entanto que marquem os nomes dês camaradas que foram a favor de tal medida, e cobrem deles uma atuação devida para que seja merecido esse privilégio de praticamente pular uma etapa do congresso.

Sobre a atuação de nosses dirigentes

Camaradas, trago ao final uma questão que tem me preocupado, a falta de tribunas feitas por dirigentes nacionais. Para além da falta de uma resposta devida à tribuna do camarada Silco, em vez de apelar a uma atribuição do OC para não ter de lidar com isso, vemos a falta de um norte nesse momento pré-congressual. Ao passo que temos debates que não parecem trazer uma proposta de fato, temos também tribunas que discutem temas como a luta transviada mas que não ganham a atenção que deviam por ser produzida majoritariamente por camaradas desconhecides. Isso tem uma solução muito clara camarada, precisam nosses dirigentes descer de seus pedestais e se por a discutir conosco, quebrar a cabeça conosco e mais importante usar de seus acúmulos a tanto tempo empilhados em suas cabeças para apontar suas perspectivas para o avanço de nossa organização. Devem além disso, entender que seus nomes têm peso e chamam atenção, e devem usar disso para que avancemos para além das discussões sobre o jornal por exemplo - e mostrar que a pauta de combate as opressões em nossa organização não é um lema vazio, que se importam de verdade com nossa militância que fogem da regra homem cis branco com formação universitária.

Nossas tribunas não são um coliseu para a base se degladiar enquanto esperam os dirigentes se porém a nos iluminar com seus tão especulados conhecimentos. O PCB-CC se provou não resistir a maré forte da polêmica pública, a se manter em pé frente ao rajadão das críticas da base. Para não caminhar rumo ao mesmo erro, se ponham a aguentar o choque de lidar com uma base crítica e que formula.

Propostas:

Quando a próxima polêmica dessa aparecer, não se coloquem a decidir se vale a pena ser publicada ou não - entendam que essa não é a dinâmica do que vocês mesmos propuseram - postem a tribuna e a debatam, apontem seus erros - simples assim!

Mesmo após o congresso, proponho para mantermos o uso da polêmica pública (não necessariamente da forma que vemos hoje), considerando seu papel de socialização de acúmulos e de disputa das massas.

Peço também que nossos dirigentes participem mais de nossos debates via tribunas, entendendo que tem gente anotando quem está participando e quem não está, quem está atuando e quem está boiando junto da maré. E mais importante, que isso vai ser cobrado no congresso.

Ps.: Favor evitar que mais polêmicas como essa até o dia 6 para eu aproveitar minhas férias na praia tranquilamente (para onde eu quase nunca vou, pelo amor)