'Em defesa da greve de ocupação: superar o legalismo no movimento estudantil' (Felix Bouard)

Com a ausência de uma política estrutural a respeito das ações diretas, nos resta esperar que camaradas se formem por fora, que tenham medo de pautar a tática nos espaços da organização e que consequentemente ela nunca seja pautada.

'Em defesa da greve de ocupação: superar o legalismo no movimento estudantil' (Felix Bouard)
"Se nossas respostas sempre são em favor da mobilização estudantil nos espaços físicos da universidade, precisamos debater sobre qual a função de cada tipo de mobilização."

Por Felix Bouard para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Desde uma conversa que tive com um de meus camaradas que dizia não termos “repertório” de táticas enquanto organização, tenho pensado como o legalismo tem criado um espantalho a respeito das táticas da luta combativa. Sendo essa minha percepção muito focada em meu local de atuação, Curitiba, mas que sei que se reflete em outros locais também.

Obviamente camaradas, sei que existem críticas válidas à tática, ao modo como são construídas de maneira distante da base, sem uma agitação política prévia em torno disso. No entanto se apontamos essas críticas e em vez de construí-las com a base, de colocar no horizonte da luta do ME a greve de ocupação, fingimos que tal tática não existe até que outros a pautem, não somos outra coisa se não imobilistas.

Sei que existem diverses camaradas dispostes a construir greves de ocupações quando necessárias. Porém com a ausência de uma política estrutural a respeito das ações diretas, nos resta esperar que camaradas se formem por fora, que tenham medo de pautar a tática nos espaços da organização e que consequentemente ela nunca seja pautada.

Sempre colocamos como não bastam notas de repúdio, posts de Instagram e ofícios para que as demandas estudantis sejam atendidas. Mas quando nossa resposta se encerra em atos de rua facilmente ignorados pelas reitoria, esta também é insuficiente. Se nos propomos a luta combativa, não podemos nos ater a se colocar no debate enquanto aqueles que defendem a mobilização estudantil no abstrato — precisamos entender como ela pode gerar resultados concretos.

Por que pontuo isso camaradas? Creio que o sentimento de que muito do que fazemos é irrelevante, que nossas lutas pouco têm gerado de resultados não é algo individual meu, até porque isso é uma constatação verdadeira! E como podemos continuar com as mesmas táticas insuficientes, evitar dirigir a revolta dos estudantes se sabemos que isso tem só nos gerado perdas?

Enquanto militante do ME, estou cansade de ouvir sobre como precisamos compreender as leis e regulamentos para podermos exigir nossas demandas. Parece algo óbvio de se dizer, e é triste sentir que devo fazer isso, mas as leis não funcionam a nosso favor! Enquanto ME sempre perderemos se apostarmos em respostas jurídicas e dentro das burocracias da universidade! Sabemos que perdemos de lavada quando se trata de infraestrutura jurídica e financeira, que nossa representação dentro das instituições é miníma e para isso as burocracias sempre têm operado!

Se nossas respostas sempre são em favor da mobilização estudantil nos espaços físicos da universidade, precisamos debater sobre qual a função de cada tipo de mobilização. Caso contrário, continuaremos o que temos feito, chamando os estudantes para diversos atos sabendo que provavelmente não dará em nada, porque o ato pelo ato não combate frontalmente a ofensiva neoliberal, o ato pelo ato não interrompe o trabalho administrativo. Nós ladramos e a caravana de nossos inimigos continua a passar! Que resultado isso pode trazer se não o desânimo e o afastamento da luta por parte dos estudantes?

Não proponho que nós sozinhes ocupemos os espaços das universidades, escolas e esses espaços, até porque não precisamos fazer isso! Mas sempre que se pauta essa tática agimos como se precisássemos de condições perfeitas para que aceitássemos tornar parte dessa construção!

Sei que muitas vezes a consciência da base está distante de aderir a uma greve de ocupação, mas o que temos feito para reverter isso? Quando deixamos de discutir em abstrato sobre a necessidade de ocuparmos os espaços da universidade para agitar em torno dessa possibilidade real? Não é papel da vanguarda esperar que a massa esteja de acordo com uma tática combativa, é papel da vanguarda instigar que tal tática esteja sendo debatida, é necessário convencer de seus resultados positivos.

Coloco por exemplo como ocorreu a ocupação do Bigarella na UFPR, se aquilo era resultado da mobilização de pouques estudantes, se era resultado do esforço de forças sem muito espaço no debate — imaginem o que poderia ter sido se tivéssemos construído também aquele espaço?

Ressalto camaradas! apesar de ter sido ocupado um espaço que não era administrativo, um espaço em que ocorriam aulas que poderiam ser feitas de outras maneiras — foi um dos únicos momentos em que a base possuía moeda de troca para exigir respostas da Reitoria, mesmo estando nós no DCE da UFPR, conseguem ver o quão problemático é fecharmos os olhos para essa tática?

Sim eu sei que buscamos legitimar a ocupação, dialogar com os CAs, sei que isso é importante mas não é suficiente!

Existe algo de muito importante em agitar em torno de ações diretas nas nossas bases, isso porque sabemos que a democracia e o fascismo se alternam frequentemente, sabemos que agora temos liberdade de nos colocar nos espaços mas que futuramente não será assim. Como podemos legitimar em nossos discursos táticas que funcionam apenas quando estamos na legalidade — e como vimos nem funcionam muitas das vezes — se sabemos que enquanto comunistas é uma canetada para sermos considerades terroristas e perseguides.

Um exemplo disso é a própria inação da UFPR frente às invasões do MBL. Essa mesma inação que permitiu com que ficasse ferida uma estudante de Ciências Sociais. Mesmo com isso foi difícil pautar sobre como deveríamos sim nos preparar para confrontos diretos com os direitistas, sobre como esperar uma resposta burocrática da UFPR não seria o suficiente e abriria espaço para que as invasões se repetissem. Isso ocorre porque está fora da hegemonia do debate a questão das ações diretas, e não temos combatido isso enquanto vanguarda. Se nos colocamos a esperar o momento em que ês estudantes avaliem como necessário a greve de ocupação, ou perderemos o bonde andando ou deixaremos que o bonde fique sem combustível.

Proponho portanto que em nossos locais de atuação se discuta sobre as táticas de ação diretas que se apresentam ao ME, que se agite a base em torno da necessidade de tais ações, que formemos nosses militantes sobre como construir tais espaços. Caso contrário, estaremos formando quadros que não ousam lutar nem vencer, que se conformam e oferecem respostas legalistas mesmo sabendo que a democracia burguesa nunca busca a melhoria da qualdiade de vida da classe trabalhora, mesmo sabendo que as instituições nunca oferecem combate frontal ao fascismo.

E sobre a última colocação, explicito aqui como tal movimentação não parte somente da base, é resultado de formação, é resultado de discussões cobertas a panos quentes sobre ações diretas, é resultado da agitação em torno de derrotas como foi o fato de bolsonaro só ter saído do poder após seus 4 anos de mandato em uma eleição em uma eleição muito apertadíssima. Tal perspectiva legalista se apresenta não só nas táticas mas em nossa própria leitura de partido, quando evocamos o estatuto esquecendo a quem ele atualmente tem servido.

O MOVIMENTO PELA UNIVERSIDADE POPULAR — Ocupar o espaço da universidade abstrata vs concretamente

Ao passo que avançamos na tática proposta para a consolidação da Universidade Popular, penso como tem sido cada vez mais idiota nosso medo da greve de ocupação. Tanto nas palavras de ordem entoadas por seus defensores, quando no significado que possui uma ocupação.

Quando se fala de derrubar os muros da universidade, de levar ciência de verdade para fora de seus espaços — se estabelece um preceito do que deve ser a universidade popular. Falemos sério camaradas, vocês conseguem ver no horizonte a consolidação da Universidade Popular sendo realizada a partir dos meios legais? Sim precisamos de projetos de extensão que interliguem a universidade e façam com que o processo de ensino-pesquisa dê retorno material para a classe trabalhadora nas periferias, nos centros urbanos e rurais. Mas estabelecer entre os estudantes a mentalidade de que podemos e devemos ocupar os espaços da universidade é essencial para a consolidação do MUP.

Os estudantes precisam entender que são eles que tornam a universidade o que ela é, que são suas pesquisas, seus estágios obrigatórios e não-obrigatórios que legitimam as greves de ocupação. O espaço é dos estudantes e dele devemos usufruir, nunca se esqueçam de que a consolidação da universidade popular dependerá também de um conflito direto para nos apossarmos dos espaços e redirecionar os trabalhos nele realizados.

É GREVE, É GREVE, DE OCUPAÇÃO! NEM SUCATEAMENTO NEM PRIVATIZAÇÃO!

PARA BARRAR A PRECARIZAÇÃO, GREVE GERAL GREVE GERAL DE OCUPAÇÃO!

DERRUBAR OS MUROS DA UNIVERSIDADE, SERVIR AO POVO CIÊNCIA DE VERDADE!