'China, Rússia, ditadura do proletariado e socialismo' (Felix Bouard)

Essas experiências [...] foram determinadas por suas condições materiais, tais condições não diminuem a métrica, tais experiências tiveram sim grandes avanços e não irei ocultar isso, mas nós comunistas também não devemos ficar numa análise nostálgica sobre como era bom a URSS ou a China de Mao.

'China, Rússia, ditadura do proletariado e socialismo' (Felix Bouard)
"Por mais camaradas, as experiências históricas nos alertam: Se a aliança com o campesinato antes era necessária, isso permanece hoje? Qual a prevalência do campesinato no Brasil? Concordamos com a leitura de um Brasil semi-feudal?"

Por Felix Bouard para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Saudações camaradas, após a resposta à minha tribuna feita pelo camarada Ant. K, venho aqui em partes responder mas em partes tentar discutir sobre a minha perspectiva a respeito das tentativas de modernização do comunismo. Faço primeiramente, um elogio ao camarada no sentido de como recepcionou as críticas (que com certeza não foram brandas). Reforço que o camarada está correto principalmente no que tange à minha falta de explicação sobre: o que seria ditadura do proletariado e porque a China não teria sido uma (realmente não esperava tanta repercussão no texto anterior, tanto que não o fiz com muito cuidado, mas isso não irá se repetir).

DITADURA DO PROLETARIADO, REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA, SOCIALISMO E CAPITALISMO DE MERCADO

Algo que me preocupa camaradas, é a forma como tratamos as palavras, conceitos com uma origem e contexto histórico sem dar atenção à esses fatores: Para mim, isso aparece não apenas na tribuna do camarada Ant, mas também em muitos debates que já vi serem feitos por comunistas. Creio que trazer o contexto histórico onde cada termo foi “cunhado” nos ajude muito nessa discussão. Reforço que avalio sim que é necessário extremo rigor teórico ao elaborarmos qualquer aspecto da teoria marxista, falo isso sendo antigue estudante de pedagogia e atualmente estudante de enfermagem - não sou doutore, ou sequer pretendo me desenvolver dentro da academia, no entanto: A simplificação por vezes serve mais para os oportunistas deturparem conceitos e ideias do que para propagandear para as massas como dizem fazer.

DITADURA DO PROLETARIADO:

“O proletariado toma o poder de Estado e começa por transformar os meios de produção em propriedade do Estado. Mas, com isto, suprime-se a si próprio como proletariado, com isto suprime todas as diferenças de classes e antagonismos de classes, e com isto também o Estado como Estado. A sociedade anterior, que se movia em antagonismos de classes, precisava do Estado, isto é, de uma organização da respectiva classe exploradora para manutenção das suas condições exteriores de produção, nomeadamente, portanto, para a repressão violenta da classe explorada nas condições de opressão dadas pelo modo de produção vigente (escravidão, servidão feudal, trabalho assalariado). O Estado era o representante oficial de toda a sociedade, a súmula desta num corpo visível, mas era-o apenas na medida em que era o Estado daquela classe que representava ela própria, para o seu tempo, toda a sociedade: na Antiguidade o Estado dos cidadãos proprietários de escravos, na Idade Média da nobreza feudal, no nosso tempo da burguesia. Ao tornar-se, por fim, efetivamente, representante de toda a sociedade, a si próprio se torna supérfluo. Assim que deixa de haver uma classe social a manter na opressão, assim que são eliminados, a par do domínio de classe e da luta, fundada na anarquia da produção anteriormente existente, pela existência individual, também as colisões e excessos deles resultantes, já nada mais há a reprimir que torne necessária uma força especial para a repressão, um Estado. O primeiro acto em que o Estado surge realmente como representante de toda a sociedade - a tomada de posse dos meios de produção em nome da sociedade - é, ao mesmo tempo, o seu último acto autónomo como Estado. A intervenção de um poder de Estado em relações sociais torna-se supérflua num domínio após outro, adormecendo, então, por si próprio. Em lugar do governo sobre pessoas surge a administração de coisas e a direcção dos processos de produção. O Estado não é “abolido”, extingue-se. Portanto, por aqui se há-de aferir a frase sobre o “Estado livre do povo”, tanto no que toca à sua justificação temporária de agitação como no que toca à sua definitiva insuficiência científica; por aqui, igualmente, se há-de aferir a reivindicação dos chamados anarquistas, segundo a qual o Estado devia ser abolido de hoje para amanhã»

(Anti-Dühring, O Senhor Eugen Dühring Revoluciona a Ciência, pp. 301-303 da 3ª ed. Alemã)4

É a partir do trecho acima que Lênin discorre sobre o que seria portanto a ditadura do proletariado - entendendo que sim - o Estado é um elemento central na consolidação do socialismo-comunismo dentro da doutrina marxista. No entanto, o que difere o estado burguês de uma ditadura do proletariado?

Primeiro. Logo ao princípio deste raciocínio, Engels diz que o proletariado, ao tomar o poder de Estado, «com isso suprime o Estado como Estado». «Não é costume» pensar no que isto significa. Habitualmente, isto ou é ignorado completamente ou considerado qualquer coisa como uma «fraqueza hegeliana» de Engels. Na realidade, essas palavras exprimem resumidamente a experiência de uma das maiores revoluções proletárias, a experiência da Comuna de Paris de 1871, de que falaremos mais pormenorizadamente no lugar próprio. De facto, Engels fala aqui de «supressão» do Estado da burguesia pela revolução proletária, ao passo que as palavras sobre a «extinção» se referem aos resíduos do Estado proletário, depois da revolução socialista. O Estado burguês, segundo Engels, não «se extingue» mas «é suprimido» pelo proletariado na revolução. O que se extingue depois desta revolução é o Estado proletário, ou um semi-Estado.

Segundo. O Estado é uma «força especial para a repressão». Esta definição admirável e extremamente profunda de Engels é dada por ele aqui com a mais completa clareza. E daí resulta que a «força especial para a repressão» do proletariado pela burguesia, de milhões de trabalhadores por um punhado de ricos, deve ser substituída por uma «força especial para a repressão» da burguesia pelo proletariado (a ditadura do proletariado). É nisso que consiste a «supressão do Estado como Estado». É nisso que consiste o «acto» da tomada de posse dos meios de produção em nome da sociedade. É evidente por si mesmo que uma tal substituição de uma «força especial» (burguesa) por outra «força especial» (proletária) não pode de maneira nenhuma ter lugar sob a forma de «extinção».

Os trechos acima foram escritos por Lênin, também em Estado e Revolução e aqui temos alguns trechos que gostaria de destacar: 

“Engels diz que o proletariado, ao tomar o poder de Estado, «com isso suprime o Estado como Estado» (...) Na realidade, essas palavras exprimem resumidamente a experiência de uma das maiores revoluções proletárias, a experiência da Comuna de Paris de 1871”
“De facto, Engels fala aqui de «supressão» do Estado da burguesia pela revolução proletária, ao passo que as palavras sobre a «extinção» se referem aos resíduos do Estado proletário, depois da revolução socialista.”

Aqui existem conclusões que nós comunistas não podemos deixar passar: Ao falar da necessidade de se suprimir o estado burguês com o estado proletário, enquanto se extingue os resíduos do estado proletário é porque entendemos: O Estado é em realidade, uma arma: instrumento que à serviço da burguesia oprime e permite a exploração do proletariado - e o nosso objetivo não é que essa arma continue existindo (isso porque ela só existe porque alguém a empunha e alguém fica sob sua mira) mas antes de a destruir, precisamos primeiro enquanto proletariado: toma-la da burguesia. 

Quem é capaz de empunhar a arma-Estado? Cansei da analogia mas: quem só possui sua força de trabalho e tem apenas seus grilhões a perder com a revolução socialista: A resposta é simples camaradas, o proletariado, e assim vamos para o próximo tópico.

PROLETARIADO, CAMPESINATO E SEUS INTERESSES

Bem camaradas, como eu disse, palavras significam coisas e portanto a própria ditadura do proletariado tem um motivo para ser chamada assim: É quando o estado existe mas está sob comando do proletariado (óbvio), e tem motivo para ser assim e não Ditadura do Povo, Ditadura do Proletariado e do Campesinato e da Burguesia Nacional (Caso da china e sua Nova Democracia), e o motivo é que cada classe possui interesses e dinâmicas diferentes, vejamos o que Lênin fala sobre isso: 

“Nos jornais e revistas populistas encontramos com frequência a afirmação de que os operários e os camponeses «trabalhadores» constituem uma só classe.

A completa inexatidão desta opinião é evidente para quantos compreendam que em todos os Estados contemporâneos domina a produção capitalista mais ou menos desenvolvida, isto é, o arbítrio do capital no mercado e a transformação por ele das massas trabalhadoras em operários assalariados. O chamado camponês «trabalhador» é, na realidade, um pequeno proprietário ou um pequeno-burguês, que quase sempre aluga a outros seu trabalho ou contrata ele mesmo operários. O camponês «trabalhador», em sua qualidade de pequeno proprietário, vacila também em política entre os patrões e os operários, entre a burguesia e o proletariado.

Uma das confirmações mais eloquentes desta natureza de proprietário, ou de burguês, do camponês «trabalhador» pode ser encontrada nos dados sobre o trabalho assalariado na agricultura. Os economistas burgueses (inclusive os populistas) cantam loas geralmente à «vitalidade» da pequena produção na agricultura, compreendendo por pequena uma exploração agrícola que não exige trabalho assalariado. Mas não lhes agradam os dados exatos sobre o trabalho assalariado entre os camponeses!

Vejamos os dados reunidos sobre esta questão pelos censos agrícolas mais recentes: o austríaco de 1902 e o alemão de 1907.

Quanto mais desenvolvido está o país, mais forte é o trabalho assalariado na agricultura. Na Alemanha, de um total de 15 000 000 de pessoas ocupadas na agricultura, 4 500 000 são assalariados, isto é, cerca de 30%; na Áustria, de 9 000 000, 1 250 000, isto é, cerca de 14%. Mas mesmo na Áustria, se tomamos as propriedades incluídas usualmente entre as camponesas (ou «trabalhadoras»), ou seja, as que têm de 2 a 20 hectares de terra (um hectare equivale a 9/10 de deciatina), comprovaremos um considerável desenvolvimento do trabalho assalariado. Explorações agrícolas de 5 a 10 hectares, 383 000; delas, 126 000 com assalariados. Explorações de 10 a 20 hectares, 242 000; delas, 142 000 (cerca de 3/5) com assalariados.

Assim, pois, a pequena agricultura camponesa («trabalhadora») explora centenas de milhares de operários assalariados. Quanto maior é a exploração agrícola, maior é o número de operários assalariados, ao lado de forças de trabalho familiares mais consideráveis. Na Alemanha, por exemplo, para cada 10 explorações camponesas correspondem os seguintes operários:
Os camponeses mais acomodados, que têm mais terra e maior número de trabalhadores «próprios» na família, contratam, além disto, um número maior de assalariados.

Na sociedade capitalista, que depende integralmente do mercado, a produção pequena (camponesa) maciça na agricultura é impossível sem o emprego em massa do trabalho assalariado. A expressão açucarada camponês «trabalhador» não faz senão enganar o operário, encobrindo esta exploração do trabalho assalariado.

Na Áustria, cerca de 1500 000 explorações camponesas (de 2 a 20 hectares) contratam meio milhão de operários assalariados. Na Alemanha, 2 000 000 de explorações camponesas contratam mais de 1 500 000 operários assalariados.

E os proprietários ainda menores? Eles próprios se deixam contratar! São operários assalariados com um pedaço de terra. Na Alemanha, por exemplo, calcula-se que existem aproximadamente três milhões e meio (3 378 509) de explorações com menos de 2 hectares. Nelas, os agricultores independentes somam menos de meio milhão (474 915), e os operários assalariados, pouco menos de dois milhões (1 822 792)!

Portanto, a própria situação dos pequenos agricultores na sociedade contemporânea os converte de modo inevitável em pequeno-burgueses, que vacilam constantemente entre os operários assalariados e os capitalistas. A maioria dos camponeses vive na miséria e se arruína, proletarizando-se, enquanto a minoria segue os capitalistas e ajuda a fazer com que dependam deles as massas da população rural. Daí que, em todos os países capitalistas, a massa do campesinato permaneça ainda à margem do movimento socialista dos operários, aderindo a diversos partidos reacionários e burgueses. Só uma organização independente dos operários assalariados, que mantenha uma luta de classes, consequente, está em condições de arrancar o campesinato da influência da burguesia e explicar-lhe a situação, completamente sem saída, dos pequenos produtores na sociedade capitalista.

A situação dos camponeses na Rússia em relação ao capitalismo é inteiramente igual à que vimos na Áustria, na Alemanha, etc. Nossa «peculiaridade» consiste em nosso atraso: diante do camponês se levanta o grande proprietário agrícola ainda não capitalista, e sim feudal, que é o apoio principal do atraso econômico e político da Rússia.”

O campesinato e a classe operária
Vladimir Ilitch Lênin
11 de junho de 1913

Percebam camaradas, fica evidente que Lênin já compreendia que existia tanto uma diferenciação clara entre proletariado e campesinato quando o segundo ao passo que expandia e ganhava mais terras seus interesses se moviam mais perto dos da burguesia do que dos do proletariado. E isso no caso, decorre do próprio caráter feudal da Rússia onde o campesinato era muito mais expressivo do que o proletariado - Se fazia necessária uma aliança entre proletariado e campesinato portanto.

Para Lênin, houve então ditadura do proletariado na Rússia depois de outubro de 1917? Sim, veja como o camarada a define:

“E, com efeito, essa forma da ditadura do proletariado, que foi já elaborada de facto, isto é, o Poder Soviético na Rússia, o Räte-System na Alemanha, os Shop Stewards Committees e outras instituições soviéticas análogas noutros países, todas elas significam e realizam precisamente para as classes trabalhadoras, isto é, para a imensa maioria da população, uma possibilidade efectiva de gozar os direitos e as liberdades democráticas como nunca existiu, nem mesmo aproximadamente, nas melhores e mais democráticas repúblicas burguesas.

A essência do Poder Soviético consiste em que a base permanente e única de todo o poder de Estado, de todo o aparelho do Estado, é a organização maciça precisamente das classes que eram oprimidas pelo capitalismo, isto é, dos operários e dos semiproletários (camponeses que não exploram trabalho alheio e que recorrem permanentemente à venda, ainda que apenas em parte, da sua força de trabalho). Precisamente as massas que, mesmo nas repúblicas burguesas mais democráticas, sendo iguais em direitos perante a lei, eram de facto afastadas, por mil processos e subterfúgios, da participação na vida política e do gozo dos direitos e liberdades democráticas, são hoje chamadas à participação permanente e necessária, e além disso decisiva, na direcção democrática do Estado.”

Teses e Relatório Sobre a
Democracia Burguesa e a 
Ditadura do Proletariado

V. I. Lénine
4 de Março de 1919

Com isso temos algumas definições importantes, proletariado e campesinato são categorias completamente distintas e seu interesse a medida que ganham aquilo que objetivam também - sendo o campesinato mais vacilante, inclusive - mas e então, como isso se difere do processo na China e sua Nova Democracia (logo falo sobre a Revolução Cultural se você Maoísta que está lendo acha que esqueci).

Usemos então, a descrição feita por Mao Tse Tung a respeito da:

É certo. Somos resolutamente contra o poder benevolente em relação a atos reacionários, aos reacionários ou classes reacionárias. Só exercemos uma administração benevolente em relação ao povo, e não em relação aos reacionários, aos reacionários e às classes reacionárias que não pertencem ao povo. O Estado popular defende o povo. Só no Estado popular pode o povo utilizar métodos democráticos em escala nacional e educar-se e reeducar-se plenamente a fim de se libertar da influência dos reacionários de seu país e do estrangeiro (no momento, esta influência ainda é muito grande, persistirá por multo tempo e não pode ser liquidada com rapidez); a fim de se despojar dos maus costumes e das ideologias absurdas adquiridas na velha sociedade e não seguir o caminho errôneo apontado pelos reacionários, mas continuar avançando e se desenvolvendo rumo ao estabelecimento da sociedade socialista e comunista.

Os métodos que nós aplicamos nesse domínio são democráticos; recorremos, de fato, aos métodos de persuasão e não de coação. Os que infringem a lei serão punidos, recolhidos à prisão ou mesmo condenados à morte. Mas não passam de casos isolados que se distinguem, em principio, da ditadura exercida sobre a classe reacionária como classe.

Quando o regime político dos reacionários tiver sido derrubado, serão concedidas terras, trabalho e meios de existência mesmo às classes reacionárias e à camarilha reacionária, com a condição de que não recorram à motins, à destruições e à sabotagens, para que se reeduquem trabalhando. Se não quiserem trabalhar, o Estado Popular às obrigará. Alem disso, será feito entre elas um trabalho político, de propaganda e de educação, como fizemos com os oficiais prisioneiros. Isto também pode ser chamado de administração benevolente. Mas realizaremos isso por meio da coerção contra as velhas classes hostis e não se pode colocar esse trabalho no mesmo plano de nosso trabalho educativo entre o povo revolucionário. Essa reeducação das classes reacionárias só pode ser levada a cabo num Estado de ditadura da democracia popular.

Se este trabalho for bem feito, as principais classes exploradoras da China — a classe dos latifundiários e a classe do capital burocrático e a classe do capital monopolista — terminarão por ser liquidadas. No concernente à outra classe exploradora, a burguesia nacional, pode-se na etapa atual realizar um grande trabalho educativo em seu seio. Quando o socialismo for realizado, isto é, depois da nacionalização das empresas privadas, a burguesia nacional poderá continuar a se educar e reeducar. O povo dispõe de um poderoso aparelho estatal e não teme a sublevação da burguesia nacional.

Estamos do Lado do Socialismo

TRANSCORRERAM 24 anos da morte de Sun Yat Sen e, sob a direção do Partido Comunista da China, a teoria e a prática revolucionárias chinesas deram um gigantesco passo à frente que mudou radicalmente a fisionomia da China. Atualmente, o povo chinês tomou consciência de duas coisas fundamentais:

— Da necessidade de despertar as massas populares do país. Isto significa a união da classe operária, do campesinato, da pequena burguesia e da burguesia nacional numa frente única, dirigida pela classe operária e a criação do Estado da ditadura da democracia popular, dirigido pela classe operária e baseado na aliança dos operários e camponeses.

— Da necessidade de unir-se, na luta comum, com os países do mundo que nos tratam em pé de igualdade e com os povos de todos os Países. Isto significa aliança com a URSS, aliança com os países de democracia popular da Europa e aliança com o proletariado e as massas populares dos demais países, para formar uma frente única internacional.

Dizem-nos: "Vocês se inclinam para um dos lados".

É verdade. Os quarenta anos de experiência de Sun Yat Sen e os 28 anos de experiência do Partido Comunista nos convenceram firmemente de que, para conseguir e consolidar a vitória, devemos pender para um dos lados. É impossível ficar entre os dois — não existe terceiro caminho. Combatemos a camarilha reacionária de Chiang Kai Shek, que se inclina para o lado do imperialismo; igualmente, somos contra a ilusão de um terceiro caminho. No mundo inteiro, e não só na China, está-se necessariamente ou do lado do imperialismo ou do lado do socialismo. A neutralidade é uma camuflagem e não existe terceiro caminho.

Dizem-nos: "A conduta de vocês é provocadora em excesso".

Sim, trata-se da conduta que seguimos em relação aos reacionários chineses e estrangeiros, isto é, os imperialistas e seus cães de fila, e não em relação aos outros homens. Quanto aos reacionários estrangeiros e chineses não se coloca a questão de atitude provocadora, uma vez que se trata de reacionários. Só traçando uma linha de demarcação entre reacionários e revolucionários, denunciando os objetivos e as conspirações dos reacionários, mantendo a vigilância nas fileiras revolucionárias e elevando nossa própria moral é que poderemos isolar, subjugar e esmagar os reacionários. Diante de uma fera não se deve manifestar o menor temor. Devemos aprender com U Sun (um dos 108 heróis da celebre obra histórica "Todos os homens são Irmãos") que matou um tigre com as mãos na ponte de Tsinian. U Sun achava que o tigre da ponte de Tsinian devoraria qualquer pessoa, quer fosse ou não provocado. É preciso escolher: ou matar o tigre ou ser devorado por ele.

Dizem-nos que "necessitamos ter atividades comerciais".

Perfeitamente. Precisamos de atividade comercial. Limitamo-nos a ser contra os reacionários nacionais e estrangeiros que nos impedem de ter atividade comercial, mas não somos contra mais ninguém. É preciso que se saiba que são precisamente os imperialistas e seus lacaios, a camarilha reacionária de Chiang Kai Shek, que nos impedem de comerciar com as potências estrangeiras e estabelecer relações diplomáticas com elas. Quando tivermos mobilizado todas as forças, no país e no estrangeiro, para aniquilar os reacionários chineses e estrangeiros, haverá atividade comercial e será possível estabelecer relações diplomáticas com as potências estrangeiras em base de igualdade, de vantagem mútua de respeito recíproco da soberania territorial.

Sobre a Ditatura da Democracia Popular

Mao Tse-Tung
1949

Bem camaradas, uma coisa fica muito evidente, quando se fala em uma união  da “classe operária, do campesinato, da pequena burguesia e da burguesia nacional numa frente única, dirigida pela classe operária e a criação do Estado da ditadura da democracia popular, dirigido pela classe operária e baseado na aliança dos operários e camponeses” - uma coisa fica muito clara: Não se trata de uma Ditadura do Proletariado, e isso não sou eu que estou apontando e dizendo, citei um documento que todes podem acessar no Marxists. E aqui no entanto fica uma questão que sei que deixei de falar, mas a China e sua Nova Democracia existiu pois ao lado dela estava a URSS e só com sua pressão era possível e nesse caso, acho importante darmos uma olhada na Linha temporal e em que situação se encontrava a URSS naquele período (como base usarei a descrição feita por Francisco Martins Rodrigues, em “Notas sobre Staline”

A natureza social da tumultuosa “construção do socialismo” realizada no início dos anos 30 sob a direcção de Staline surge mais clara quando a observamos através dos seus diferentes períodos (Bettelheim):

No primeiro, de 1928 a 1931, há um impetuoso ascenso de massas, quando o grupo dirigente se apoia nos operários e camponeses pobres para a destruição das bases do capitalismo privado. A expropriação dos kulaks, o controle sobre os técnicos burgueses, a realização do primeiro plano quinquenal, chamam para a vanguarda da luta grandes massas trabalhadoras, sobretudo da juventude operária, galvanizada pelo objectivo de acabar com a exploração, erguer em ritmo febril grandes fábricas e novas cidades, dominar a técnica, extirpar a ignoráncia. A classe operária enfrenta com ánimo revolucionário as tremendas provações económicas, convicta de que está finalmente a construir o socialismo e a avançar para o comunismo.

É o período da crítica ao desvio de direita, da proletarização do aparelho do partido e do aparelho de Estado, da “revolução cultural”, das assembleias de fábrica, do ataque aos privilégios e aos especuladores, da campanha de formação de milhão e meio de novos técnicos e quadros “peritos e vermelhos”. Duplica o número de alunos nas escolas, abrem as universidades operárias, triplica a tiragem da imprensa, largamente aberta à crítica da base.

É também o período em que o partido imprime à Internacional Comunista uma nova orientação combativa, em ruptura com as vacilações anteriores. Os partidos comunistas saem da dependência da social-democracia e transformam-se em partidos de luta operária contra a crise capitalista.

“No segundo período(1932-34), quando se confirma o êxito do plano quinquenal e a liquidação da pequena burguesia tradicional, o grupo dirigente orienta-se para a moderação dos excessos e para passar da agitação revolucionária à restauração da ordem. Promove a luta contra o “igualitarismo”, alarga o leque salarial (1 para 30!), institui o livrete de trabalho e uma severa disciplina nas fábricas, apoia a autoridade e os privilégios dos novos quadros, suprime as limitações nos salários dos comunistas, reabilita a elite intelectual anteriormente marginalizada.

O “Congresso dos vencedores” em 1934 é a consagração da nova ordem social, formalmente “socialista”, em que os quadros assumem uma posição de comando inatacável e as massas operárias e camponesas são expropriadas de todas as conquistas e relegadas à função de simples produtores.

Ao mesmo tempo, perante o ascenso do nazismo, a política internacional do Partido Bolchevique abandona o curso anterior, inflecte-se numa direcção moderada e lança-se à busca de alianças com a social-democracia e a burguesia liberal.

Terceiro período (1935-38): o novo regime, que se pretende baseado na aliança “harmoniosa” dos operários, kolkozianos, empregados e intelectuais, é modelado através do terror. Culto do chefe “genial”, poder absoluto da polícia política, caça aos “sabotadores, traidores e espiões”, execuções em massa.

A melhoria geral do nível de vida acompanha a supressão de todos os direitos políticos dos operários a coberto da nova Constituição, “a mais democrática do mundo”, a consolidação dos privilégios dos quadros e o seu recrutamento em massa para o partido.

Degradação da vida intelectual, renascimento do nacionalismo sob cores socialistas, pragmatismo oportunista da política externa. A nova linha de Dimitrov no 7° Congresso da Internacional Comunista alimenta, em nome da política das Frentes Populares, a degeneração reformista dos partidos comunistas. O apoio à revolução proletária é sacrificado como um estorvo às manobras diplomáticas com a burguesia liberal (guerra de Espanha). O terror ultrabolchevique no interior casa-se com o oportunismo no exterior.

Assim, a revolução que triunfa na União Soviética nos anos 30 começa por se apoiar na classe operária para eliminar a pequena burguesia e acaba subordinando operários, camponeses e quadros ao poder autocrático de Staline, que parece reinar acima das classes. Este “totalitarismo do Partido-Estado” não é um “desvio perverso” (Bettelheim) mas um sistema politico de compromisso, edificado sobre o fracasso da revolução proletária, abortada nos anos da NEP.”

Óbvio camaradas, sei que apenas jogar um texto não será suficiente para convencer a todes, o que peço é que bebam da mesma fonte que eu, e a partir daí tomem posição. Mas retomando, FMR já apontava ali que a linha de Dimitrov havia sido vencida, a proposta das frentes populares e a degeneração dos partidos comunistas já eram perceptíveis - Para aquelus que não leram o anti-dimitrov também do FMR, creio ser importante colocar: A principal justificativa para as frentes populares era a necessidade de trazer à luta contra o fascismo a pequena burguesia, tirando seu caráter vacilante e colocando o proletariado de a educar. 

Ao ler isso e o texto de Mao, para mim fica bem claro que a necessidade de demarcar o que são os objetivos do proletariado, de se entender a pequena burguesia enquanto vacilante estavam sendo deixados de lado. Agora não só a burguesia nacional chinesa recebia pressão da URSS e poderia se manter lucrando devido a onde estava posicionada - mas ela também se tornava uma classe passível de se educar. Não parecia haver o objetivo de se suprimir a burguesia, se apelava para o bom e velho proudhonismo:

"Cada relação econômica tem um lado bom e um lado mau: é o único ponto em relação ao qual o sr. Proudhon não se desmente. O lado bom, ele o vê exposto pelos economistas; o lado mau, ele o vê denunciado pelos socialistas. Toma de empréstimo aos economistas a necessidade de relações eternas, toma de empréstimo aos socialistas a ilusão de não ver na miséria senão a miséria. Está de acordo com uns e outros ao querer conformar-se com a autoridade da ciência. A ciência, para ele, reduz-se às minúsculas proporções de uma fórmula científica; é o homem que anda à procura de fórmulas. É assim que o sr. Proudhon se gaba de haver feito a crítica da economia política e do comunismo: ele está abaixo de uma e de outra cousa. Abaixo dos economistas, porque, como filósofo, que tem a seu alcance uma fórmula mágica, acreditou poder se dispensar de entrar em pormenores puramente econômicos; abaixo dos socialistas, porque não tem nem bastante coragem, nem luzes bastantes para se elevar, não fosse especulativamente, acima do horizonte burguês.

... Ele quer planar como homem de ciência acima dos burgueses e dos proletários; e não é senão o pequeno-burguês oscilando constantemente entre o capital e o trabalho, entre a economia política e o comunismo."

Miséria da Filosofia
Resposta à Filosofia da Miséria do Sr. Proudhon

Karl Marx
Apêndice I - Proudhon Julgado por Karl Marx
[Carta a J. B. Von Schweitzer]

Se o problema é estrutural, se a burguesia enquanto classe existe apenas para extrair mais-valia, o que significa então educar a burguesia nacional? Se a mesma possui poder na ampla frente única, a mesma vai ir contra qualquer proposta de ser suprimida, mas sinceramente isso não parecia sequer ser cogitado camaradas.

Até agora camaradas, escrevi porque entendendo que meu texto era curto e sem muitas explicações, faltei com respeito aos camaradas que se puseram a entrar em debate comigo, considero rebatida portanto a seguinte colocação:

“Por fim, o último parágrafo coloca um ponto que poderia trazer uma reviravolta e uma real contribuição ao debate. Felix diz que acredita que a China jamais foi uma ditadura do proletariado. Isso seria o suficiente para quebrar toda a minha argumentação, porém não são apresentados argumentos que validem a sua afirmação.”

Sim, eu não considero a China nesse momento uma ditadura do proletariado, nem Mao, também sobre o mesmo período.

REVOLUÇÃO CULTURAL, SOCIALISMO?

Algo que os queridos maoístas fizeram questão de me lembrar é que em nenhum momento tratei sobre a China no período da revolução cultural. Com um deles me dizendo inclusive que durante esse período seria a China: socialista. Logo irei falar sobre a questão socialismo e comunismo e como tais formas aparecem principalmente para Marx e Lênin, enquanto isso, tratemos da revolução cultural.

O texto que usarei para iniciar o debate sobre será “A Revolução Cultural e o Fim do Maoísmo” também do Francisco Martins Rodrigues:

“Apresentada inicialmente como uma campanha educativa para o aperfeiçoamento do socialismo, a revolução cultural foi na realidade a fase superior de uma luta política surda que desde a libertação vinha dividindo o partido chinês em duas alas. E se Mao desencadeou as hostilidades através de uma polémica literária não foi por amor aos floreados mas porque a sua posição no comité central chegara a um ponto crítico.

A verdade é que, embora acima de qualquer contestação pública devido ao seu papel histórico e ao imenso prestigio de que desfrutava junto do povo, Mao perdia terreno como dirigente do partido e do Estado. As suas concepções de aprofundamento ininterrupto da revolução apareciam a um sector crescente dos quadros comunistas como uma fantasia teórica, inaplicável à construção do socialismo e carregada de perigos. Havia uma luta entre duas linhas, que se centrava na questão: seguir ou não o modelo soviético?

Dez anos antes, com a colectivização geral da agricultura e a nacionalização dos sectores dominantes da indústria e dos serviços, a China Popular anunciara a entrada triunfal na etapa da revolução socialista.

Em fins de 1956, os sectores estatal e cooperativo abrangiam dois terços da indústria, sendo o restante constituído por empresas mistas e uma percentagem insignificante de empresas privadas; a quase totalidade das explorações rurais tinham sido agrupadas em 740 mil cooperativas de tipo superior, sem o recurso à repressão massiva que se dera na União Soviética; o primeiro plano quinquenal marcava a cadência de um crescimento económico acelerado; a elevação espectacular do nível de vida do povo, a extensão dos direitos democráticos, a emancipação da mulher e das nacionalidades oprimidas, a nova cultura de massas, tornavam a China Nova num farol para o movimento de libertação nacional.

Contudo, estas vitórias históricas só podiam ser confundidas com uma revolução socialista devido à crença de que o controlo do poder pelo partido comunista, exercido em nome da classe operária, garantia o avanço para o socialismo. A verdade é que a ditadura do proletariado não passava de uma frase de propaganda. Desde que a China enveredara pela via da Democracia Nova, não existiam, nem sequer em esboço, sovietes operários. Por detrás dos brilhantes sucessos alcançados, a base social do regime continuava a ser a ditadura democrático-popular, uma partilha instável do poder entre os camponeses pobres, a pequena burguesia, a classe operária e a burguesia “patriótica”.

E o pior é que esta “aliança das quatro classes” pendia cada vez mais para o lado da burguesia. Todas as soluções de compromisso que o maoísmo fora forçado a adoptar devido ao tremendo atraso das forças produtivas e das relações de classe e que tinham permitido as espectaculares vitórias dos anos precedentes, pesavam agora como uma canga asfixiante sobre a revolução.

A incorporação maciça no novo regime dos técnicos, funcionários, administradores, oficiais do exército e intelectuais “recuperados” do Kuomintang e ganhos para a revolução à custa de altos salários; a integração dos antigos capitalistas “nacionais” na gestão das empresas que lhes tinham sido expropriadas, com grossas indemnizações e participação nos lucros; a invasão do partido pela pequena-burguesia, ansiosa por ter a sua parte no poder; o abismo que continuava a existir entre a elite dirigente e os trabalhadores manuais; a consolidação de rígidas hierarquias nas empresas, no exército e no Estado — tudo isto tornava simbólico o poder dos trabalhadores. O partido tinha comprado a adesão da burguesia nacional” e da pequena burguesia, mas esta não se contentava com as somas fabulosas embolsadas — queria o poder.”

Aqui FMR coloca como a Revolução Cultural era antes de tudo um processo de disputa interna no Partido Comunista - (não tão) surpreendentemente, as frentes únicas acabaram por facilitar a entrada e dissipação de tendências direitistas no seio do PCCh, Mao perdia força e usando da disputa aberta pôs-se a incentivar que a base convicta das posições de Mao (que FMR coloca acertadamente coloca como centrista) que se pusessem a disputar os rumos do partido contra o que Mao identificava como revisionismo (isso tá bem ligado à URSS na mesma época, quando Nikita Kruschov sobe ao poder, sendo grande personificação do revisionismo).

No entanto, tal Revolução não foi vitoriosa, se quiser saber mais, indico o trecho Vitória e derrota de Mao Tse-tung (do mesmo texto que to citando a todo momento) mas coloco só uma palinha: 

“A força invencível do maoísmo residira até aí na sua capacidade para navegar na corrente principal da revolução, alimentando-se do seu impulso e acelerando a sua marcha. Agora, porém, essa capacidade esgotava-se porque o maoísmo era incapaz de enfrentar o nível superior a que chegara a luta de classes — já não se tratava de “contradições no seio do povo”, mas da luta pela liquidação da burguesia. A ditadura democrático-popular já não servia para nada: ou se avançava para a ditadura do proletariado ou se recuava para a ditadura de burguesia.

Em 1969, esta opção ainda estaria oculta para a maioria dos maoístas, por julgarem que a destituição dos cabecilhas de direita e o controlo do poder pelo exército constituíam uma barreira insuperável a qualquer tentativa de restauração burguesa. Mao conservava, dos tempos da guerra revolucionária, uma confiança arreigada nas potencialidades do exército popular como “escola do povo”.

O 9.° Congresso do partido consagrou a preponderância do exército no CC. Grande parte dos delegados” eram oficiais do exército. Lin Piao foi declarado “sucessor” de Mao. Mas o exército já não podia desempenhar o papel dos tempos da luta de libertação, em que era um instrumento dos camponeses pobres e dos operários. Ele era agora um corpo armado mergulhado numa sociedade em convulsão onde a burguesia ascendia continuamente, projectada para cima pelo próprio desenvolvimento das forças produtivas.

As enfáticas declarações de vitória da revolução cultural e de repúdio por Liu e Teng, feitas pelo congresso, tinham um significado preciso: os quadros e a burguesia podiam estar tranquilos quanto ao retorno da ordem e à garantia dos seus privilégios, desde que não desafiassem o poder do exército.

Daí em diante, o equilíbrio de poder definido pelo congresso foi-se degradando constantemente. E à medida que os maoístas tentaram tardiamente opor-se ao avanço da contra-revolução a que tinham aberto as portas, foram por sua vez eliminados um a um. A liquidação da esquerda pelo centro arrastou, numa nova fase, a liquidação do centro pela direita.

Em 1970, Chen Po-ta, o teórico mais eminente do maoísmo, foi saneado sem explicações. A causa era a cobertura que dera aos “ultra-esquerdistas” nas jornadas de 67, e que a direita não lhe perdoava. Foi mais tarde julgado.

Em 1971, foi a vez de Lin Piao tentar opor-se febrilmente à lenta marginalização do exército dos postos de comando. Organizou uma conspiração, acerca da qual até hoje pouco se sabe, mas que teria sido precipitada pela decisão de Mao de receber Nixon na China, e foi morto em circunstâncias obscuras A tempestade de denúncias em torno do seu “revisionismo” deu uma excelente oportunidade para fazer cair no esquecimento o caso de Teng Siao-ping que manobrava para retomar o poder.

Por fim, com a morte de Mao, o “bando dos quatro” foi apeado do poder e preso, após uma enganosa “segunda revolução”, em que tentaram, já sem qualquer probabilidade, fazer reviver a mobilização de massas contra a ascensão imparável de Teng, o chefe reconhecido da nova burguesia chinesa.

Mao Tsé-tung morreu sozinho, entre os escombros da revolução de que fora durante tantos anos o indiscutível “timoneiro” E em 1980, a revolução cultural foi repudiada, os seus principais dirigentes condenados e Liu Chao-chi solenemente reabilitado. A partir daí, estava traçado o rumo que hoje segue a China.”

E assim camaradas, nem sei o que falar exatamente, me parece complicado afirmar que houve ditadura do proletariado quando o CC do PCCh coloca após a morte de Mao Zedong:

O falecimento do Presidente Mao Tsé-tung é uma perda incalculável para o nosso Partido, para o nosso Exército bem como para o nosso povo das diversas nacionalidades, para o proletariado internacional e os povos revolucionários de todos os países, assim como para o movimento comunista internacional. O seu desaparecimento causou uma dor imensa ao nosso povo e aos outros povos revolucionários do mundo. O Comité Central do Partido Comunista da China conclama todo o Partido, todo o Exército e o Povo de todas as nacionalidades do nosso país a transformar a sua dor em força:

Continuaremos a causa que o Presidente Mao deixou sem terminar, persistindo em tomar a luta de classes como eixo, mantendo firmemente a linha fundamental do Parido, perseverando na continuação da Revolução sob a Ditadura do Proletariado.

Continuaremos a causa que o Presidente Mao deixou sem terminar, reforçando a direcção única do Partido, salvaguardando resolutamente a coesão e a unidade do Partido, cerrando fileiras em torno do Comité Central do Partido. Na luta entre as duas linhas, reforçaremos a edificação do Partido no plano ideológico e organizativo e, em conformidade com as cinco condições requeridas para a formação dos continuadores, aplicaremos firmemente o princípio da tripla união dos quadros idosos, de meia idade e jovens.

Continuaremos a causa que o Presidente Mao deixou sem terminar, consolidando a grande união do nosso povo das diversas nacionalidades dirigida pela classe operária e baseada na aliança Operário-Camponesa, conduzindo em profundidade a crítica a Teng Hsiao-ping, prosseguindo a luta contra o desvio de direita que pretendia pôr em causa as conclusões justas, consolidando e desenvolvendo as conquistas da Grande Revolução Cultural Proletária, apoiando com ardor as inovações socialistas, limitando o direito burguês, consolidando cada vez mais a Ditadura do Proletariado no nosso país. Continuaremos a desenvolver os três grandes movimentos revolucionários que são a luta de classes, a luta pela produção e a experimentação científica e edificaremos o Socialismo segundo os princípios: independência e autonomia; contar com as próprias forças; trabalhar duramente; edificar o país com diligência e economia; desenvolver todos os esforços; colocar-se sempre na vanguarda; quantidade, rapidez, qualidade e economia.

Continuaremos a causa que o Presidente Mao deixou sem terminar, aplicando firmemente a linha do Presidente Mao em matéria de edificação do Exército, reforçando a edificação do Exército e da Milícia Popular, reforçando os nossos preparativos para enfrentar a guerra e redobrando de vigilância para estarmos sempre prontos a aniquilar todo e qualquer inimigo que ouse invadir o nosso país. Libertaremos Taiwan.

Continuaremos a causa que o Presidente Mao deixou sem terminar, aplicando com firmeza a sua linha e a sua política revolucionárias nas relações externas. Permaneceremos fiéis ao Internacionalismo Proletário, reforçaremos a unidade do nosso Partido com os partidos e organizações autenticamente marxistas-leninistas do mundo inteiro, reforçaremos a unidade do nosso povo com os povos de todos os países e, sobretudo, com os do Terceiro Mundo; e, no plano internacional, unir-nos-emos a todas as forças susceptíveis de serem unidas para levar até ao fim a luta contra o imperialismo, o social-imperialismo e o revisionismo moderno. Nunca pretenderemos a hegemonia nem seremos uma superpotência.

Continuaremos a causa que o Presidente Mao deixou sem terminar, estudando com afinco o marxismo-leninismo — pensamento-mao-tsé-tung, lendo militantemente as obras de Marx, de Engels, de Lenine, de Estaline e do Presidente Mao, lutando para derrubar definitivamente a burguesia e todas as demais classes exploradoras, para substituir a ditadura da burguesia pela Ditadura do Proletariado, para assegurar o triunfo do Socialismo sobre o capitalismo, para fazer do nosso país um Estado Socialista poderoso, para trazer tanto quanto possível uma contribuição relativamente grande à humanidade e para realizar finalmente o Comunismo.

Viva o Marxismo - Leninismo — Pensamento - Mao Tsé-tung sempre vitoriosos!

Viva o Grande, Glorioso e Justo Partido Comunista da China!

O Presidente Mao Tsé-tung, nosso Grande Dirigente e nosso Grande Educador, viverá eternamente!

(Agência Hsinhua, 9 de Setembro de 1976).Mensagem Dirigida a Todo o Partido, a Todo o Exército e ao Povo de Todas as Nacionalidades do País

Comité Central do Partido Comunista da China

Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional da República Popular da China

Conselho de Estado da República Popular da China

Comissão Militar do Comité Central do Partido Comunista da China

9 de Setembro de 1976

Camaradas, se a transição à uma ditadura do proletariado não foi feita, não dá pra se dizer que ela existiu, isso seria simplesmente ilógico - e com isso eu afirmo: Não houve ditadura do proletariado na China, e isso não é algo polêmico.

SOCIALISMO-COMUNISMO E O PENSAMENTO MARXISTA

Não vou mentir que já estou me cansando de escrever esse texto, mas considerando que faltam duas horas para eu ir para a aula e ainda não consegui dormir, seguimos:

A única coisa que está completamente acabada na nossa revolução é o seu trabalho democrático-burguês. E temos o mais legítimo direito a orgulharmo-nos disso. O seu trabalho proletário ou socialista resume-se a três aspectos principais: 1) saída revolucionária da guerra imperialista mundial; desmascaramento e interrupção da carnificina dos dois grupos mundiais de abutres capitalistas. Isto foi completamente feito pela nossa parte; só a revolução numa série de países avançados poderia realizá-lo em todos os aspectos. 2) Criação do regime soviético, forma de realização da ditadura do proletariado. Operou-se uma viragem mundial. Terminou a época do parlamentarismo democrático-burguês. Começou um novo capítulo na história mundial: a época da ditadura proletária. Só uma série de países aperfeiçoará e culminará o regime soviético e todas as formas de ditadura proletária. Resta-nos ainda muito, muitíssimo por fazer neste domínio. Seria imperdoável não o ver. Mais de uma vez teremos que concluir, refazer e recomeçar do princípio. Cada degrau que consigamos avançar, subir, no desenvolvimento das forças produtivas e da cultura, deve ser acompanhado do aperfeiçoamento e da modificação do nosso sistema soviético, e nós encontramo-nos a um nível muito baixo no aspecto económico e cultural. Há muito que refazer, e «perturbar-se» por isso seria o cúmulo do absurdo (senão pior do que absurdo). 3) Edificação económica da estrutura do regime socialista. Neste domínio ainda está por concluir o principal, o fundamental. E esta é a nossa obra mais justa, tanto do ponto de vista dos princípios como do ponto de vista prático, tanto do ponto de vista da RSFSR agora como do ponto de vista internacional.

Uma vez que o principal não está concluído na sua base, é preciso fixar aí toda a nossa atenção. E a dificuldade aqui consiste na forma de transição. «Não basta ser revolucionário e partidário do socialismo ou comunista em geral — escrevia eu em Abril de 1918 em As Tarefas Imediatas do Poder Soviético. É necessário saber encontrar em cada momento particular o elo particular da cadeia a que temos de nos agarrar com todas as forças para reter toda a cadeia e preparar solidamente a passagem para o elo seguinte; a ordem dos elos, a sua forma, o seu encadeamento, a diferença entre uns e outros na cadeia histórica dos acontecimentos não são tão simples nem tão rudimentares como uma cadeia vulgar feita pelo ferreiro.»

No momento presente, no domínio da atividade de que estamos tratando, esse elo é a reanimação do comércio interno, regulado (orientado) acertadamente pelo Estado. O comércio — tal é o «elo» na cadeia histórica dos acontecimentos, nas formas transitórias da nossa edificação socialista em 1921-1922, «a que temos de nos agarrar com todas as forças», nós, o poder de Estado proletário, nós, o partido comunista dirigente. Se agora «nos agarrarmos» a este elo com bastante firmeza, dominaremos certamente toda a cadeia num futuro próximo. Doutro modo não poderemos dominar toda a cadeia, não poderemos criar a base das relações económicas e sociais socialistas.

Sobre a Importância do Ouro agora e depois da Vitória Completa do Socialismo

V. I. Lénine
6-7 de novembro de 1921
“Pode dizer-se, sem receio de engano, que deste raciocínio de Engels, notável pela riqueza de pensamento, só se tornou verdadeiro património do pensamento socialista nos partidos socialistas contemporâneos que o Estado «se extingue», segundo Marx, diferentemente da doutrina anarquista da «abolição» do Estado. Truncar assim o marxismo significa reduzi-lo ao oportunismo, pois com tal «interpretação» fica apenas a ideia vaga de uma mudança lenta, uniforme, gradual, da ausência de saltos e tempestades, da ausência de revolução. A «extinção» do Estado, na concepção corrente, geralmente divulgada, de massas, se assim se pode dizer, significa indubitavelmente o esbatimento, se não a negação da revolução. Mas, entretanto, semelhante «interpretação» é a mais grosseira deturpação do marxismo, vantajosa apenas para a burguesia, teoricamente baseada no esquecimento das mais importantes circunstâncias e considerações indicadas, por exemplo, no raciocínio «de resumo» de Engels por nós citado na íntegra. Logo ao princípio deste raciocínio, Engels diz que o proletariado, ao tomar o poder de Estado, «com isto suprime o Estado como Estado». «Não é costume» pensar no que isto significa. Habitualmente, isto ou é ignorado completamente ou considerado qualquer coisa como uma «fraqueza hegeliana» de Engels. Na realidade, essas palavras exprimem resumidamente a experiência de uma das maiores revoluções proletárias, a experiência da Comuna de Paris de 1871, de que falaremos mais pormenorizadamente no lugar próprio. De facto, Engels fala aqui de «supressão» do Estado da burguesia pela revolução proletária, ao passo que as palavras sobre a «extinção» se referem aos resíduos do Estado proletário, depois da revolução socialista. O Estado burguês, segundo Engels, não «se extingue» mas «é suprimido» pelo proletariado na revolução. O que se extingue depois desta revolução é o Estado proletário, ou um semi-Estado.”

Gostaria que isso ficasse claro camaradas, mas em 1921, Lênin colocava: “A única coisa que está completamente acabada na nossa revolução é o seu trabalho democrático-burguês.” - E se fôssemos ver onde isso se encaixa quando Lênin trabalha a colocação de Engels no Anti-Duhring vemos: Se estava instaurando um estado proletário, porém esse estado, pelos vários fatores que acabei trazendo aqui e no texto anterior: Relações feudais e um campesinato predominante na Rússia, a não realização da revolução na Alemanha. Portanto, o que estou afirmando não deve ser considerado polêmica, e na verdade para mim decorre de um problema formativo em nossa militância que compreende que o capitalismo seria o estado quando usado pela burguesia (o que é ruim!) e o socialismo o estado quando usado pelos trabalhadores (o que é bom!) sem tratar sobre quais classes estão a frente de determinado processo e por quais interesses, se a experiência caminha para a superação da divisão de classes (ou se busca as manter e no máximo: educá-las) ou superar a extração de mais-valia (se há uma classe lucrando, por mais que hajam políticas sociais e grandes avanços na estrutura, não podemos chamar tal experiência de socialista camaradas).

Por fim, agora realmente cansei e vou dormir, e no caso odeio revisar ou fazer textos de maneira interrompida. Mas antes que perguntem (e não sei se vão), compartilho da visão do FMR sobre essas experiências: elas foram determinadas por suas condições materiais, tais condições não diminuem a métrica, tais experiências tiveram sim grandes avanços e não irei ocultar isso, mas nós enquanto comunistas também não devemos ficar numa análise nostálgica sobre como era bom a URSS ou a China de Mao.

Esqueci de uma coisa na real, mas assim camaradas, eu quero sim fazer tribunas sobre outras coisas, esse tema acabou me pegando muito porque eu conheço o camarada AntK e gostaria de debater com ele. No entanto. acho que esse debate é sim importante principalmente sobre a caracterização da China de hoje. Peço que se atentem mas a leitura que tivermos sobre a China irá definir como iremos nos colocar frente à suas políticas econômicas internacionalmente (e aqui nem preciso lembrá-los que a China é evidente cliente do latifúndio, a monocultura e a pecuária, assim como da mineração, e no caso acho que os pontos que camarada Marte trouxe em “Sobre o "socialismo chinês" e a posição da China na cadeia imperialista” são muito interessantes ao levantar isso.

https://emdefesadocomunismo.com.br/sobre-o-socialismo-chines-e-a-posicao-da-china-na-cadeia-imperialista-marte/

Por mais camaradas, as experiências históricas nos alertam: Se a aliança com o campesinato antes era necessária, isso permanece hoje? Qual a prevalência do campesinato no Brasil? Concordamos com a leitura de um Brasil semi-feudal?

Tais perguntas irão nos fazer responder qual será nossa política de alianças, com quais classes iremos propôr alianças - A burguesia nacional seria uma delas? creio que não.

Para além disso, espero também que saibam que para mim, a leitura de uma China socialista entra em conflito direto com a estratégia socialista, não só no sentido de “será que temos a mesma perspectiva de socialismo?” mas também considerando que podemos ter uma posição parecida ao PCdoB caso a gente caia nesse desvio. 

“23) A nova luta pelo socialismo se dá num mundo em mudanças nas suas relações de poder no século XXI. Está em curso uma transição do quadro de dominação unipolar que marcou o imediato pós-Guerra Fria, com a intensificação de tendências à multipolarização e à instabilidade no sistema internacional. Transição cuja essência é marcada pelo declínio relativo e progressivo dos EUA e pela rápida ascensão da China socialista. Essas tendências são fomentadas e alimentadas pela dinâmica de desenvolvimento desigual do capitalismo que tende a se intensificar com a crise internacional desse sistema. Tem sido fator importante, também, a crescente luta dos trabalhadores e dos povos. Assim, por um lado, a crise econômica atual tende a agravar o declínio da hegemonia dos Estados Unidos, embora estes ainda preservem ampla supremacia de poderio militar. Por outro, as tendências em curso não delineiam ainda uma nova correlação de forças entre as forças revolucionárias e contrarrevolucionárias em escala mundial, que continuam a prevalecer apesar da acumulação dos fatores de mudanças progressistas e revolucionárias. A transição do capitalismo ao socialismo no Brasil,”

Trecho retirado do programa do PCdoB, pode ser acessado em:
https://pcdob.org.br/programa/

Será que é essa a perspectiva de revolução para vocês?