'Afinal, o que fez com que nosso CR defendesse os revisionistas do comitê central?' (Felix Bouard)

Se antes não se discutia a natureza de nossa política internacional, de nossa política de alianças nacionalmente — não seria nesse momento que isso iria magicamente aparecer para a mente dos camaradas.

'Afinal, o que fez com que nosso CR defendesse os revisionistas do comitê central?' (Felix Bouard)
"Precisamos recuperar a luta comunista, precisamos recuperar o que é o marxismo-leninismo, precisamos recuperar o que é o centralismo-democrático! E não podemos fazer isso se nos fechamos a realidade histórica em que estamos inserides!"

Por Felix Bouard para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas, escrevo esse texto para buscar aprofundar o debate sobre a crise e como ela se articula na realidade paranaense. Antes de tudo camaradas, avalio que algo que me motivou a escrever esse texto foi a tribuna do militante Konrado, não avalio que tenho plena concordância com o camarada, mas compreendo o propósito que ela serviu para o momento do debate em que estávamos.

Certo, para começar irei fazer uma análise em cima da tribuna do Konrado. Em minha avaliação, o texto cumpre o papel de buscar agitar a militância paranaense em torno da necessidade de nos distanciarmos da realidade paranaense, e nos inserirmos nela a partir de seu escopo nacional. O camarada traz pontos importantes sobre os perigos do regionalismo e dá um nome diferente ao falar sobre sua ocorrência no Paraná — o meu problema com isso? apesar do camarada buscar criar uma nova categoria para definir a realidade paranaense, pouco avança no sentido de explicar porque ela diferiria dos regionalismo em outros estados. Para além disso, acaba fazendo uma análise um tanto moralista quando fala que a militância do Paraná não faz as críticas e toma a posição devida simplesmente por avaliarem que o Paraná é um estado cheiroso onde se teria a avaliação que poderíamos fechar os olhos para a crise nacionalmente e manter boas relações com o Partido (referendando o CC). Entendo o caráter agitativo que o texto possui? com certeza! Sei também que o estilo de escrita do camarada faz com que hajam alguns maneirismos que puramente via texto podem perder um pouco de seu sentido.

No entanto camaradas, avalio que uma questão muito importante e na qual o camarada pouco avança é: a construção histórica do PCB dentro do Paraná pós início da reconstrução revolucionária. Isso porque eu creio que foi um choque para muitos, o fato de militantes que considerávamos ponta-firme, militantes críticos ao comitê central acabarem por optar por uma terceira via (que acaba sendo uma defesa do CC apenas). Acho muito irônico inclusive o fato do primeiro militante a mencionar e ser a favor da construção do XVII congresso extraordinário estar agora defendendo o CC e a unidade do partido (mesmo que operando uma virada à direita).

Segue contextualização (e já pontuo que sou péssime em análises de conjuntura): retomando seu trabalho político a partir de 2018 no Paraná, o PCB no estado acaba abarcando em suas fileiras militantes um tanto diferentes daqueles que se estava acostumado dentro do partido. Militantes mais próximos de uma atuação dentro do mov estudantil, dos mov sociais e muitos estando em camadas muito precarizadas da sociedade brasileira. Isso por muito tempo deu ao Paraná uma característica muito particular, tendo seu trabalho político elaborado do zero, sem uma “cultura política” hegemônica e portanto por vezes estando mais aberto a debates e disputas internas. Tal atuação favoreceu a formação de váries militantes com muitas críticas ao partido de tipo monolítico imprimido pela terceira internacional, compreendendo a necessidade e a realidade em que ocorre a disputa interna nas fileiras do partido.

Tudo isso para mim, e imagino que para outres também, fez com que esperássemos uma adesão muito maior à reconstrução revolucionária por parte de militantes do CRPCB (sabendo é claro de algumas exceções com inserção na academia e no sindicato de professores universitários, com relações de amiguismo os aproximando do Comitê Central). No entanto, no caminho algo deu errado (e nesse ponto eu acho que o Konrado não conseguiu se debruçar). Por algum motivo (que logo defenderei minha tese de qual é), vários militantes com ês quais dividimos fileiras, atos, cantamos juntes palavras de ordem, vieram no ativo estadual defendendo uma terceira via. Tal terceira via como é sempre bom ressaltar, derivando de uma análise legalista do que é o partido comunista enquanto instrumento de mobilização da classe trabalhadora. Defendendo o partido pelo partido, o estatuto pelo estatuto e ignorando por vezes o caráter político que determinava os acontecimento da crise e as correlações de forças envolvidas que moldavam o que seria encaminhado e o que não, o que seria expulso e o que não, sempre no caminho do revisionismo.

Por que isso aconteceu camaradas? Na verdade acho que vocês já leram sobre isso, mas não é simplesmente por estar no cerne da contradição. Por ter críticas ao CC e estar insatisfeite com o giro à direita agora promovido que a concepção des militantes acerca do que é o partido comunista e a luta comunista, irá magicamente se elevar!

Lênin já colocava isso camaradas! Mas a compreensão que surge espontaneamente a partir da crise não é uma compreensão revolucionária, se antes não se discutia a natureza de nossa política internacional, de nossa política de alianças nacionalmente — não seria nesse momento que isso iria magicamente aparecer para a mente dos camaradas.

Existe algo trabalhando há muito mais tempo, enquanto disputa ideológica dentro das fileiras de nosso partido e esse algo é o revisionismo!

Sim camaradas, quando colocamos em nosso sistema nacional de formação a leitura — por vezes sem contextualização e críticas- do partido de paredes de vidro de Alváro Cunhal, defendemos um dos lados de uma disputa que levou o Partido Comunista Português ao reformismo, com uma perspectiva de que o instrumento deve ser legalista, com francamente uma defesa rebaixadíssima da democracia (lembrou de alguém?)

E nesse tema entram diversas pontos. Algo que tenho percebido é como tentamos nos afastar de qualquer disputa acerca do trotskismo vs stalinismo, já que elas não teriam nada a ver com nossa realidade nacional. Bem camaradas, obviamente fazer a disputa em torno de moralismo e personalismo de ambos os lados não servirá de nada. Mas pensemos, como podemos reconhecer e combater o revisionismo se não sabemos como ele já se disfarçou? como podemos compreender que métodos de direção evocam quais construções históricas? Não se formar nesse âmbito é permitir que o revisionismo se dissipe com extrema facilidade, fazendo com que nosses própries camaradas defendam políticas assim!

Para além disso, evoco a necessidade do estudo dessas categorias históricas por compreender que ela é o que falta para aqueles que tem a perspectiva legalista de um partido comunista! Quando iniciamos o debate acerca da luta comunista e damos a entender que foi com a criação do PC no brasil que a luta radical começou é fortalecer essa perspectiva! Esse instrumento surge enquanto resultado do avanço da compreensão nacional e internacional a cerca da necessidade de superação do capitalismo. Portanto ora, se ignoramos o revisionismo que ocorreu na união soviética que forneceu as condições para que alguém como nikita kruschev chegasse ao poder, se ignoramos as críticas que Mao coloca ao partido de tipo monolítico e da necessidade da disputa de linhas aberta no seio do partido — fortalecemos o revisionismo! fortalecemos a perspectiva de que nunca antes um PC rachou, que nunca antes um Comitê Central se desviou a direita e teve de ser denunciado, fortalecemos a perspectiva de que a luta se dá a partir do partido e não do contrário — com essa perspectiva quem irá se colocar a favor do racha, entendem o que digo?

E para ês camaradas que trazem críticas válidas às discussões que se centram em disputas superficiais e distantes de nossa realidade — saibam que isso também é efeito do revisionismo! — se agora temos dificuldade em abandonar o etapismo, se agora pouco recuperamos em torno da luta feminista, antirracista e queer no Brasil é porque o rumo que temos seguido não é marxista nem leninista — pelo contrário, busca abandonar a necessidade de renovação constante e adaptação da tática à realidade, busca mecanizar o que é a estratégia socialista e imprimir uma interpretação rebaixada do marxismo, busca abandonar a necessidade da hegemonia do proletariado em nossa tática nos rebaixando para conseguir apoio de classes vacilantes!

Nossa discussão deve ser em torno da forma camaradas, nossas formações e metodologias de deliberação precisam ser reavaliadas e estar de acordo com nossa realidade! Mas além disso, precisamos saber que o conteúdo do debate é vital! Precisamos recuperar a luta comunista, precisamos recuperar o que é o marxismo-leninismo, precisamos recuperar o que é o centralismo-democrático! E não podemos fazer isso se nos fechamos a realidade histórica em que estamos inserides!